Qual a primeira cervejaria do Brasil?
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A competição pelo título de primeiro

O ser humano de hoje é meio obcecado com essa história de ser o primeiro, o mais importante, com se destacar de alguma forma. Acho que é por isso, no final das contas, que há uma busca pela primeira cervejaria do Brasil. Muito mais do que pela história em si ou pela cultura cervejeira. E a resposta acaba por ser muito mais dependente de critérios do que de fatos.
Uma cervejaria realmente existiu em Recife (PE), de onde escrevo hoje, criada pelos holandeses da Companhia das Índias Ocidentais em 1640, durante o governo de Maurício de Nassau. Ela foi montada pelo cervejeiro Dirck Dics na casa de descanso de Nassau, La Fontaine. E ele foi o responsável pela produção. Parte dela — há registros! — era destinada para o palácio de Vrijburgh, residência oficial do governador.
Mesmo assim, críticos dessa teoria dizem que ela não foi a primeira do Brasil, pois não existia Brasil ainda. O território era uma colônia de Portugal. Outros dizem ainda que ele não tinha objetivos comerciais, já que só há provas de envio das cervejas para Nassau. Mas o que eles esperavam de uma cervejaria do século 17? Um cupom fiscal?
Sendo assim, sua candidatura seria inválida.
Imigrantes alemães
Quando estive em Porto Alegre (RS) em abril visitei também a casa reformada da antiga cervejaria de Georg Heinrich Ritter no município de Linha Nova. Ele teria se instalado lá em 1846. Mas a edificação em questão é de 1864. Muitos dizem que ele já fazia cerveja por lá desde o primeiro momento, no porão do comércio que mantinha por lá. Outros registros apontam a segunda data, já nessa casa feita de pedra.
Mas há também uma outra história, ainda mais antiga. Junto com os primeiro imigrantes alemães a chegarem ao Sul do Brasil em 1824 estava Ignácio Rasch. Ele se instalou com seus compatriotas na região que hoje é São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. E criou um comércio, além de fazer o transporte de barco para cima e para baixo no Rio dos Sinos. Dizem que também fez cerveja, o que o colocaria na dianteira dessa corrida.
Mas segundo o pessoal de Linha Nova com quem falei, pela dificuldade de obter matérias-primas naquela época, é bem provável que o que ele fazia mesmo na época era o que os alemães chamam de Sprizbier. Um fermentado de açúcar, sem cereais ou malte. Provas? Nenhuma, nem a favor, nem contra essa teoria. Não que meus novos amigos de Linha Nova sejam muito isentos aqui, mas até que faz sentido a teoria da escassez.
Rio de Janeiro
Já a versão mais conhecida é da Bohemia. Sua história começa com outro nome. Era a Imperial Fábrica de Cerveja Nacional de Henrique Leiden, que produzia desde 1848 no Rio de Janeiro (Rua De Matacavallos, 78, atual Rua do Riachuelo). Menções a uma unidade da empresa em Petrópolis começam a aparecer em 1853 apenas. E é essa a data oficialmente utilizada hoje.
Essa fábrica da serra carioca passa a ser administrada por Henrique Kremer em 1858, que muda o nome para Imperial Fábrica de Cerveja Nacional de Henrique Kremer. O nome atual só aparece em 1898, quando é constituída a Cervejaria Bohemia a partir de fábrica de Kremer.
Nesse caso, parece até meio obvio que já existiam cervejarias anteriores no Rio de Janeiro operando antes da Bohemia de Petrópolis. Me disseram que o que sustenta que ela é a mais antiga são publicações de jornal da época oferecendo cerveja para venda. Mas as demais não tinham? Isso ainda vou pesquisar mais para frente durante visita ao Rio.
De qualquer forma, realmente importa quem foi o primeiro? Fora a cervejaria de Recife, as demais tem datas muito próximas e ainda há indícios de outras produções informais na época — cervejeiros “caseiros” da época. E como distinguir entre o que era uma pequena produção de fundo de quintal de uma manufatura ou fábrica de fato? Quantos litros, funcionários, equipamentos? Parece até que passamos mais tempo estabelecendo critérios do que realmente levantando o que realmente aconteceu.
Não sou contra critérios. São importantes. Mas ficar só neles, talvez até com interesse de deslegitimar os outros candidatos, literalmente não leva a lugar nenhum. Será que cada um não foi importante da sua maneira, não contribui de forma singular na sua região e seu tempo para a cerveja chegar a ser o que é hoje no Brasil?
Notícias da semana
Os números em si não são uma novidade. O relatório de 2023 da Brewers Association saiu há algumas semanas. Mas ainda no espírito da semana passada, dá para pesar boas e más notícias desse relatório também. Em volume, o craft beer perdeu 1% em volume. Mas o mercado geral da cerveja perdeu 5,1%. No frigir dos ovos, as artesanais sairam de 13,1% do market share em 2022 para 13,3% em 2023.
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Em viagem
Viajar é preciso. Estou em Recife (PE) para julgar o Concurso Nacional das Acervas e pesquisar para o livro. É muita coisa. Então, vou ficar devendo um texto. Faltou tempo e confesso que ainda estou me organizando quanto a essa nova vida de somente produtor de conteúdo. Rs…
Obrigado pelo apoio de vocês!